No Dia Mundial da Saúde, o epidemiologista e coordenador da Sala de Situação da UnB, Jonas Brant, faz uma avaliação do cenário de crise atual e reforça a importância de investir em vigilância e promoção da saúde
Texto: Fernanda Angelo
Imagem: Getty Images
O Dia Mundial da Saúde, comemorado em sete de abril, traz uma reflexão acerca da situação que o mundo vive atualmente, com a pandemia do novo coronavírus. É notório que essa crise de saúde trouxe lições para o Brasil, mas, também, para outros países, sobre a importância de investir em vigilância e promoção da saúde, ou seja, o quanto é estratégico para uma nação ter um sistema público de saúde consolidado.
O epidemiologista e coordenador da Sala de Situação da Universidade de Brasília, Jonas Brant, acredita que as ações precisam ser coordenadas e que se tenha um sistema público de saúde para garantir o acesso a todos e, principalmente, às ações de prevenção. Segundo ele, quem promove saúde hoje no Brasil, não são os planos de saúde particulares, que oferecem, basicamente, uma estrutura de consultas especializadas e hospitais de média complexidade, mas, sim, o Sistema Único de Saúde (SUS).
“Boa parte da alta complexidade ainda é do SUS. Quando a gente pensa nos aprendizados, ou nas coisas que precisamos lidar no futuro, eu acho que é tentar mostrar para os gestores e para a sociedade o quanto é estratégico para um país ter um sistema de saúde forte, porque, hoje, por exemplo, não importa mais se você tem dinheiro ou não, as UTIs (Unidades de Terapias Intensivas) estão todas lotadas”, enfatiza o epidemiologista.
Segundo o coordenador da SDS/UnB, é a promoção e a vigilância em saúde que garantem a qualidade da comida e dos ambientes em que as pessoas estão, a investigação de cada caso de uma doença infecciosa para o rápido controle e o acesso às vacinas. “É importante entendermos que essa estrutura do sistema de saúde é que nos garante a prevenção das doenças. Esperamos que o investimento na área de vigilância e promoção da saúde seja uma das lições mais importantes desta pior crise sanitária da história do Brasil, porque é ela que nos garante mais resiliência no cenário de crise como este que estamos vivendo”, reforça Jonas Brant.
Pensando na crise sanitária atual, o epidemiologista explica que a primeira onda da covid-19 gerou uma resposta extremamente rígida, do ponto de vista da estruturação da rede hospitalar e hospitais de campanha, mas com investimento pequeno na área de vigilância. “O fato nos colocou no cenário de uma segunda onda ainda pior do que a primeira, pois as ações que permitem o controle de uma epidemia não foram desenvolvidas”. Segundo Jonas, é preciso mais epidemiologistas de campo, mais profissionais de vigilância e mais capacidade organizacional para o enfrentamento desta crise.
O epidemiologista reforça que as ações que evitam que a epidemia chegue a níveis de sobrecarga do sistema de saúde são a testagem, o rastreamento de casos e contatos, a organização da integração saúde e assistência social para apoio social e econômico em casos suspeitos e vigilância sanitária. “São essas ações que, no geral, a gente não vê, não mede e não se discute no dia a dia que poderão evitar uma terceira, quarta e quinta onda, sem controle. Podemos usar o lockdown como mecanismo, mas somente no cenário crítico, de sobrecarga do sistema”, conclui o coordenador da SDS/UnB, Jonas Brant.