Arboviroses precisam de atenção no país

Crise no Acre serve de alerta para surto de dengue em meio à pandemia do coronavírus 

Texto: Fernanda Angelo
Imagem: Raul Santana/Fiocruz

O número de casos de covid-19 segue em crescimento no Brasil. A delicada circunstância que o país enfrenta pode ainda ser agravada com a ocorrência de arboviroses, como a dengue, zika e chikungunya, que também merecem cuidado, principalmente, nesta época do ano, com o aumento das chuvas e da temperatura, o que torna o ambiente propício para a proliferação do Aedes aegypti, o mosquito vetor dessas enfermidades. 

A importância de estar atento a essa situação pode ser melhor percebida com a crise que, atualmente, o Acre vivencia. O governo local precisa lidar, concomitantemente, com a covid-19 e o surto de dengue, o que pode gerar um colapso no sistema de saúde na região. 

De acordo com o boletim epidemiológico do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), o estado contabiliza mais de 8,6 mil casos suspeitos de dengue até o dia 6 de fevereiro de 2021, com cerca de 1,5 mil casos confirmados. Em um comparativo com o mesmo período de 2020, quando foram contabilizados mais de 3,8 mil casos suspeitos, o aumento é de 123%. Vale destacar que, segundo informações do boletim, dos 22 municípios do Acre, 20 estão infestados pelo mosquito Aedes aegypti. 

Epidemiologistas da Sala de Situação da Universidade de Brasília – SDS/UnB explicam que o fato pode estar relacionado à pandemia, que atrapalhou as vistorias periódicas em residências por todo o país, quando agentes de saúde checam o índice de infestação do mosquito vetor. “O verão no Brasil teve início sem o Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) e, consequentemente, sem estratégias de políticas públicas para o enfrentamento das arboviroses”, explica a epidemiologista e coordenadora técnica da SDS/UnB, Marcela Lopes. 

Dengue x Coronavírus

Os sintomas do coronavírus podem ser confundidos com o da dengue, mas é preciso cautela, pois existe diferença. Segundo a epidemiologista, ambas apresentam febre e dores no corpo, porém, a covid-19 possui outros sintomas como a perda do paladar e do olfato. “Se a pessoa sentir algo que esteja relacionado às duas doenças, a recomendação imprescindível é que procure um serviço de saúde ou orientação médica para que a doença seja diagnosticada corretamente”, afirma.

Vale destacar que, no cenário atual, é possível que uma pessoa seja acometida pelas duas enfermidades. O fato tem ocorrido nos hospitais do Acre, onde os médicos precisam lidar com o desafio, desde o diagnóstico ao tratamento. 

Cuidados

A epidemiologista lembra dos cuidados que se deve ter para evitar o contato direto com o mosquito vetor Aedes aegypti e sua proliferação. “Não existe ainda uma vacina amplamente divulgada, então, a prevenção se faz no elo mais fraco que é o mosquito”, reforça. Segundo Marcela, é importante seguir as orientações já recomendadas em campanhas, como evitar o acúmulo de água nas residências, com atenção aos potes de plantas e piscinas não tratadas, por exemplo. Ela também sugere o uso de repelentes na pele e, se possível, roupas que cubram a maior parte do corpo. 

A especialista destaca também a importância das gestões estadual e municipal se preocuparem com a limpeza e infraestrutura urbana, como a retirada de lixos, limpezas de fossas, entre outros cuidados. “É dessa forma que o ciclo de desenvolvimento do mosquito é quebrado e, com isso, há uma diminuição dos casos de dengue e outras arboviroses que têm o Aedes como mosquito vetor”, afirma a coordenadora técnica da SDS/UnB. 

Números no Brasil 

Dados fornecidos pelo Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), divulgado em janeiro deste ano, apontam que de 29/12/2019 a 2/1/2021, foram notificados mais de 987 mil casos prováveis de dengue no país. Segundo o boletim epidemiológico, a região Centro-Oeste apresentou a maior incidência, com cerca de 1,2 mil casos/100 mil hab. 

O boletim epidemiológico informa também que foram notificados 82,4 mil casos prováveis de chikungunya, com taxa de incidência de 39,2 casos/100 mil hab no país. As regiões Nordeste e Sudeste apresentaram as maiores taxas de incidência. 

Em relação aos casos de Zika, o boletim traz os dados até o dia 29/12/2020, com mais de 7,3 mil casos prováveis no país e taxa de incidência de 3,5 casos/100 mil hab.  A região Nordeste teve a maior taxa de incidência. 

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