Pesquisadores da meta 7 do componente 2 do Projeto Arbocontrol apontam fragilidades e sugerem melhorias para maior controle do vetor e, consequentemente, de arboviroses
Por Fernanda Angelo
O Componente 2 do Projeto Arbocontrol, que propõe novas tecnologias de inteligência entomológica para o controle do Aedes aegypti, está dividido em três metas. Entre elas, a meta 7, responsável pela avaliação de sistemas de informação entomológicas, ambientais, epidemiológicas e assistenciais, do Ministério da Saúde (MS), e o uso de evidências para fornecer respostas e apoiar a tomada de decisão. Pesquisadores dessa etapa estão empenhados e mostram pioneirismo com a avaliação da vigilância entomológica do Aedes aegypti, uma das primeiras a ser realizada no cenário nacional.
De acordo com o coordenador do Componente 2, Jonas Brant, a meta 7 visa dar suporte científico, com evidências concretas para a tomada de decisão e de avaliação de sistemas de vigilância. “São produtos básicos que permitem direcionar melhorias para a vigilância de agravos no País”, explica.
O mosquito vetor do gênero Aedes pode ser encontrado em todos os estados do Brasil e devido à sua capacidade de transmissão de arboviroses como dengue, zika, chikungunya e febre amarela, a vigilância entomológica desse vetor está incluída na Coordenação Geral de Vigilância de Arboviroses (CGarb), no Ministério da Saúde (MS). Dessa forma, considerando que as doenças de transmissão vetorial causam expressiva morbimortalidade no Brasil e estão entre os graves problemas de saúde pública do País, o estudo avaliou a eficácia e eficiência do sistema de vigilância entomológica do Aedes aegypti no âmbito nacional, entre os anos de 2010 e 2018, com recomendações para o aperfeiçoamento dos sistemas de vigilância.
Pesquisadores da meta 7 acreditam que o diferencial deste estudo é revelar os avanços, assim como as limitações do Sistema Nacional de Vigilância das Arboviroses, relacionados às atividades de controle do inseto vetor. “O intuito é recomendar medidas para melhorá-lo, buscando estratégias eficientes, com foco na qualidade de vida da população brasileira. Se tratando de doenças vetoriais, as análises são essenciais para o controle. Portanto, pode ser visto como um processo preditor ao acontecimento de doenças ou epidemias, no caso da dengue, ou das outras enfermidades emergentes como a zika e a Chikungunya”, enfatiza Marcelas Lopes, uma das pesquisadoras da meta 7 do componente 2 do Projeto Arbocontrol.
A metodologia de análise utilizada no estudo seguiu as Diretrizes de Atualização para Sistemas de Vigilância de Avaliação dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/EUA), em inglês – Update Guidelines for Evaluating Surveillance Systems do Centers for Disease Control and Prevention. Vale destacar que o CDC teve um papel fundamental na construção dos objetivos da vigilância desde a década de 1950, o que trouxe um conceito mais ampliado, com olhar para a vigilância em saúde pública. “Este conceito, que foi aprimorado ao longo do tempo e difundido mundialmente, visa monitorar os problemas de saúde pública de maneira eficiente e efetiva. Sendo assim, foi escolhida como metodologia proposta para o desenvolvimento do estudo”, explica a pesquisadora.
Com base nas análises, de forma geral, a avaliação identificou que o sistema de vigilância do Aedes aegypti possui uma boa qualidade dos dados, não é oportuno, pouco representativo, é complexo, não estável, flexível e parcialmente útil. As análises foram feitas em diferentes sistemas de informações, como o Sistema de Programa Nacional de Controle da Dengue (SISPNCD), Levantamento Rápido do Índice de Infestação do Aedes aegypti (LIRAa), Levantamento de Índice Amostral (LIA) e Sistema Informatizado da Presidência da República (SIM-PR). Com a avaliação, pesquisadores da meta 7 fizeram algumas recomendações.
Entre as principais fragilidades apontadas pela equipe e que impactam diretamente a utilidade, deixando de cumprir alguns dos objetivos propostos pela vigilância do Aedes estão a necessidade de articulação com vários setores da saúde, do meio ambiente e da sociedade civil organizada; oportunidade de melhorias em relação ao grande número de sistemas de informação (SISPNCD, LIRAa/Lia, SIM-PR), muitos subutilizados, e a necessidade de integração dos mesmos; ausência de treinamento e comunicação entre os agentes comunitários de saúde (ACS) e agente de combate às endemias (ACE), o que acentua a falta de agilidade nas ações de prevenção e controle voltados ao vetor; criação de uma rotina de análise, disseminação e publicação dos dados voltada para todo o País; e um maior controle do status de cada município em relação ao nível de infestação pelo vetor e de quais ações de vigilância são realizadas no local.
“Acreditamos que a realização do estudo em questão possibilitará a integração entre as vigilâncias entomológica e epidemiológica, bem como com a assistência, adotando, assim, um conceito mais amplo de vigilância em saúde, com intuito de buscar o estado de saúde e bem-estar social da comunidade, sob a ótica do coletivo”, finaliza a pesquisadora Marcela Lopes.
* Autores do estudo “Avaliação do Sistema de Vigilância Entomológica (Aedes aegypti): Marina Pissurno do Nascimento, Maria Verônica Galeno Dias, Marcela Lopes Santos, Janaina Sallas, Bruno Lopes e Jonas Brant.
Projeto Arbocontrol
Proposta de investigação do controle do vetor Aedes aegypti e das arboviroses dengue, zika e chikungunya. Está inserido no âmbito da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (FS/UnB) e do Núcleo de Estudos de Saúde Pública do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Nesp/Ceam/UnB). O projeto está dividido em quatro componentes: Pesquisa para o controle do vetor (1), Novas tecnologias em Saúde (2), Educação, Informação e Comunicação para o controle do vetor (3) e Formação e capacitação profissional (4). Conta com a participação de laboratórios, pesquisadores e professores dos departamentos de Saúde Coletiva e da Farmácia, e ainda de pesquisadores colaboradores e discentes dos diversos cursos de graduação e pós-graduação da FS/UnB e outras instituições parceiras.