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Brasil inicia campanha de vacinação contra o coronavírus em todos os estados e no DF

Entenda a importância de estratégias, grupos prioritários e eficácia da imunização

Por Fernanda Angelo

Trabalhadores da saúde que atuam na linha de frente, indígenas, idosos acima de 60 anos e pessoas com deficiência a partir dos 18 anos que vivem em unidades de acolhimento são os grupos prioritários da primeira fase da vacinação contra covid-19 Crédito: Acervo Fiocruz Imagens

A pandemia do novo coronavírus, SARS-Cov2, chega ao ano de 2021 com uma aliada da população mundial: a vacinação. Mais de 50 países já iniciaram a imunização, o que representa cerca de 28 milhões de pessoas vacinadas em todo o planeta. No Brasil, onde se chega a mais de 210 mil mortes decorrentes da Covid-19, a medida começou a ser adotada após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, e AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford com a Fiocruz. O fato provoca euforia entre a população brasileira, mas gera também muitas dúvidas como, por exemplo, em relação à capacidade operacional, tanto de produzir como de vacinar a população; segurança e eficácia das vacinas; além dos grupos prioritários. 

O Brasil possui um dos maiores programas de vacinação do mundo, o Programa Nacional de Vacinação, PNI , criado em 1973 e coordenado pelo Governo Federal. A partir dele, é garantido o acesso da população às vacinas e à imunização.  Por meio de suas diretrizes, doenças que provocavam milhares de vítimas no país, como a poliomielite e a varíola, foram erradicadas. Porém, vale destacar que é preciso aliar o PNI às estratégias governamentais de saúde pública para que as ações sejam efetivas. 

De acordo com o epidemiologista e coordenador da Sala de Situação em Saúde da Universidade de Brasília – SDS/UnB, Jonas Brant, uma das maiores dificuldades em relação à vacinação do coronavírus no país é a coordenação, em nível estadual e nacional. “É preciso consolidar as estratégias de comunicação e alinhamento das ações, principalmente em nível nacional. A falta dessa articulação provoca grande dificuldade nos municípios que esperam esse alinhamento para pensar em um planejamento local. É a partir desse planejamento municipal que haverá informação e garantia que as pessoas estejam seguras em relação à vacina”, destaca o epidemiologista.

Apesar de o país ter uma rede de Atenção Primária à Saúde (APS) bem estruturada, com 36 mil salas de vacina, de acordo com o PNI, e capaz de organizar o fluxo dos serviços nas redes de saúde, tanto os mais simples quanto os mais complexos, o coordenador da SDS/UnB reforça que é preciso investir. “O Brasil precisa fortalecer essa rede, com mais profissionais capacitados em cada uma dessas salas de vacina, para que se possa não só dar conta dessa resposta à covid-19, mas melhorar essa capacidade para outros imunobiológicos”, afirma Jonas.  

No momento, o principal gargalo da campanha de vacinação no Brasil é em relação à importação da matéria prima da China, o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA)  para a produção local das duas vacinas, a CoronaVac e AstraZeneca – que tem data prevista para chegar ao Brasil nesta sexta-feira (22), com  2 milhões de doses. “Devido à nossa forte rede de imunização, com as vacinas disponíveis, não será difícil o Brasil garantir o acesso das vacinas às pessoas e, assim,  que elas tenham imunidade para que esse vírus não cause tantos óbitos como tem causado até o momento”, destaca o epidemiologista. 

Importância da vacinação 

É válido destacar que a vacinação é a forma mais eficaz de controlar doenças causadas por agentes infecciosos. De acordo com o epidemiologista Jonas Brant, é uma forma de tentar eliminar o vírus da população. “O vírus busca sempre uma nova pessoa para infectar e, cada vez que ele encontra uma pessoa vacinada, se cria uma barreira”, explica. 

Para que se tenha um resultado efetivo, é preciso pensar na vacinação como uma decisão coletiva, que compromete toda a sociedade. “O efeito da vacina é individual, mas o efeito mais importante dela é o coletivo, ou seja, a soma de todas as pessoas vacinadas irá criar uma barreira para que o vírus, no caso o coronavírus, não encontre condições de proliferar”. 

Eficácia e segurança da vacina 

A eficácia geral da vacina CoronaVac, que será aplicada neste primeiro momento da campanha de vacinação de combate ao coronavírus no país, é de 50,38%. Segundo o epidemiologista Jonas Brant, isso significa que quem toma a vacina reduz em cerca de 50% a chance de adoecer e, ainda mais, de desenvolver a forma grave. “É uma probabilidade. Tem a ver com o risco de adoecer e é muito menor para quem for imunizado”, explica Jonas que reforça também que a vacina é segura. 

Grupos prioritários 

De acordo com o Ministério da Saúde, os primeiros a receber a vacina no Brasil serão os profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate ao coronavírus, indígenas e idosos que vivem em asilos e pessoas com deficiência que estão internadas. Esse grupo receberá o primeiro lote da vacina CoronaVac, o que significa 2,8 milhões de pessoas imunizadas, com duas doses. Este número considera a previsão de perda de 4% durante a operação logística.  No dia 18 de janeiro, o Brasil iniciou a distribuição de 6 milhões de vacinas pelo país. 

É válido esclarecer que estabelecer eticamente esses grupos é pensar em priorizar pessoas em um contexto de risco, ou seja, quem são os cidadãos que têm maior probabilidade de adoecer e de morrer diante do cenário atual de pandemia.  Para o epidemiologista Jonas Brant, o grupo mais importante neste momento são os profissionais da linha de frente. “É preciso que eles estejam seguros para não se infectar e infectar outros dentro do próprio estabelecimento de saúde, além de garantir atendimento a todas as pessoas que possam adoecer”, esclarece.  

Alerta 

Mesmo com o início da vacinação no Brasil, é preciso ter em mente que a pandemia do coronavírus continua. O número de casos tem crescido em todo o país e, dessa forma, não se deve deixar de lado o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos com sabão ou álcool 70%. O estado do Amazonas tem o maior número de casos, que pode ser explicado pelas  mutações do vírus que geram uma nova variante, aparentemente, com maior transmissibilidade. Vale destacar que a crise foi acentuada pelo fato de o sistema de saúde da região do Amazonas ser frágil e muito concentrado em Manaus, somado à dificuldade da logística para envio dos insumos. 

Jonas Brant explica que o que ocorre no Amazonas, atualmente, pode ocorrer em outros estados, caso o Brasil não consiga frear a transmissão do vírus, com a nova cepa que circula em Manaus. “É importante nos prepararmos, principalmente, em relação à testagem, para que seja possível entender onde esse vírus está circulando e evitar a transmissão para outras pessoas”, finaliza o coordenador da SDS/UnB, Jonas Brant.

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