Doença milenar ainda atinge milhões de pessoas em todo o mundo. Meta liderada pela OMS é eliminar a doença até 2030
Por Fernanda Angelo
Vinte e quatro de março é o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. Apesar de ser uma doença milenar – há registros de múmias com lesões que se assemelham à doença -, e de ter cura, ainda atinge milhões de pessoas em todo o mundo. A meta, liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é eliminar a tuberculose, como um problema de saúde pública, até 2030.
A data de luta contra a doença foi estabelecida em 1982, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela União Internacional Contra Tuberculose e Doenças Pulmonares (Union), em alusão ao dia do descobrimento do bacilo causador da tuberculose, o Mycobacterium tuberculosis (MTB) ou bacilo de Koch, pelo médico alemão Robert Koch, em 24 de março de 1882.
De acordo com o epidemiologista e vice-coordenador da Sala de Situação da UnB – SDS/UnB, Mauro Sanchez, a doença surge, normalmente, com o desenvolvimento de uma sociedade, quando parte da população começa a viver em condições muito precárias, com grandes aglomerações e má nutrição. “O fato pode ser ilustrado com o que ocorreu durante a Revolução Industrial. Uma época em que a tuberculose tinha uma incidência extremamente alta”, exemplifica o especialista. Hoje se observa estas condições e contrastes, com grandes desigualdades sociais, nas grandes metrópoles, principalmente nas periferias.
A tuberculose é uma doença infectocontagiosa e acomete, principalmente, os pulmões. Segundo o epidemiologista, os sintomas mais comuns são a tosse, a febre baixa no fim do dia, suores noturnos e o emagrecimento.
O Guia de Bolso “Doenças Infecciosas e Parasitárias”, do Ministério da Saúde, edição 2006, descreve que, após a inalação dos bacilos, eles atingem os alvéolos, onde provocam uma reação inflamatória e exsudativa (liberação de líquido) do tipo inespecífico. O Guia esclarece também que a infecção benigna pode atingir linfonodos e outros órgãos ou tecidos como pleura (membrana que envolve o pulmão), ossos, sistema urinário, meninges, cérebro, olhos, entre outros.
Vacina e tratamento
A vacina contra a tuberculose é a BCG, composta pelo bacilo de Calmette & Guérin, obtido pela atenuação do Mycobacterium bovis. Segundo o epidemiologista, ela é aplicada em crianças na primeira semana de vida e protege contra as formas graves da doença.
A tuberculose também tem tratamento e é baseado de acordo com o bacilo que infecta a pessoa, podendo ser sensível ou resistente. O epidemiologista explica que se a tuberculose for sensível, o tratamento dura seis meses e conta com o auxílio de inúmeros fármacos, já que é preciso atacar a bactéria por várias frentes, com o intuito de evitar a multiplicação dentro do indivíduo, principalmente, na forma pulmonar.
Caso a tuberculose seja resistente aos medicamentos, o tratamento será mais prolongado e envolverá fármacos injetáveis também. “Por isso tudo que é tão importante a adesão ao tratamento, conforme recomendado pelo profissional de saúde, que deverá ser do início até o último dia”, pontua Mauro Sanchez.
Problema de saúde pública
A tuberculose ainda é um sério problema de saúde pública. Só no ano passado, cerca de 10 milhões de pessoas foram acometidas pela doença. No Brasil, são aproximadamente 70 mil novos casos por ano. Segundo o vice-coordenador da SDS/UnB, as pessoas que mais adoecem são as que apresentam algum tipo de vulnerabilidade, seja ela social ou biológica.
O epidemiologista lembra também que a meta mundial, liderada pela OMS, é acabar com a tuberculose como um problema de saúde pública até 2030. “O Brasil assumiu esse compromisso. Para isso, tem investido em novos tipos de diagnósticos, novos fármacos e em proteção social”, afirma.
Desafios
Os desafios para atingir as metas de eliminação da tuberculose como um problema de saúde pública até 2030 são grandes, ainda mais com a pandemia do novo coronavírus. Para o epidemiologista Mauro Sanchez, é importante manter o compromisso político, obter financiamento e reforçar as políticas de proteção social que diminuam a vulnerabilidade das pessoas que, eventualmente, adoecerão pela enfermidade.
De acordo com Mauro Sanchez, a pandemia da Covid-19, infelizmente, trouxe obstáculos no controle da doença. Ele acredita que a atenção e os recursos humanos e financeiros alocados para a pandemia acabaram por interferir um pouco no controle da tuberculose.
“É preciso dar continuidade à atenção ao controle da TB para que possamos atingir a meta, mesmo em um contexto muito difícil de escassez de recursos humanos e de financiamento. Precisamos ter consciência que é preciso manter o rumo e a firmeza nesses propósitos para atingir a meta, pois é um problema ainda muito sério. Temos ainda um cenário de muitas pessoas que adoecem e morrem de tuberculose”, conclui o especialista.